Acredite: seja 1.0
ou 6 cilindros, ter seu próprio automóvel custa tanto quanto um filho
Gerson Campos
Sim, eu sei que meu sustento vem justamente da venda de carros e
do consequente conteúdo que isso gera para o Acelerados, meu ganha-pão. Mas não
posso mentir. Financeiramente, ter um carro é uma enorme roubada.
Sentimentalmente, para quem gosta disso como eu gosto, manter um carro é uma
deliciosa irresponsabilidade.
“Mas mesmo um
Celtinha ou Palio 1.0 são roubadas?” Oh, yeah, my friend. Ainda mais se você
roda menos de 10 mil quilômetros por ano. Ter um carrinho novo te leva, no
mínimo, R$ 1.000ão por mês.
Duvida? Vamos
às contas. Imagine que você comprou um Chevrolet Onix zero, atualmente o mais
vendido do Brasil, por R$ 46.150.
Comece pelo
fim: se você não tivesse comprado o carro, estes 40 e poucos mangos rederiam
cerca de R$ 4.600 por ano (tomando por base um investimento que lhe dê 10%
a.a.). Só aí você teria R$ 383,33 a mais por mês no bolso.
Na melhor das
hipóteses, seu Ônix vai desvalorizar 10% ao fim de um ano. Outros R$ 4.600 e
poucos reais a menos no seu patrimônio. Até aqui, estamos falando de um chute
na canela de R$ 766 por mês.
Sendo otimista,
você vai pagar mais ou menos R$ 2.300 de seguro (5% do valor do carro) e exatos
R$ 1.846 de IPVA. Não perca a conta: você já ficou R$ 13.338 mais pobre em um
ano.
Não vou nem
contabilizar os custos da documentação, já que eles incidiriam apenas no
primeiro ano do carro, mas pode arredondar facilmente para R$ 15.000. Não
contabilizei também os juros de um eventual financiamento (e eles são altos).
Tudo bem se eu
disser que você paga quase R$ 1.300 por mês para dizer “meu carro”? Ah, calma:
isso para dizer “meu carro está ali parado; olha que lindo”.
Para dizer
“vamos com meu carro até lá” você ainda abastece com a gasolina a quase R$ 4 o
litro e pode tomar uma batida, uma ralada ou ter o pneu estourado. Falando em
pneus, eles gastam. Depois de um ano rodando, talvez você precise trocar os
quatro.
Na ponta de um
lápis mais apurado, tudo isso custa o mesmo que ter um filho. Ou mais.
Chocado? Calma.
E eu, que tenho um carro que custa mais do que dois Ônix e rodo com ele apenas
duas vezes por semana? Financeiramente, sou um idiota. Eu sei.
Mas no meu caso
é pura paixão pela máquina e por tudo o que ela me traz. Muito pouco de
transporte. Absolutamente tudo de paixão.
É o meu
futebol, a minha caipirinha, o meu surf. Só que bem mais caro. Já cansei de me
culpar pelo meu gosto e não faço mais isso. Deveria ter nascido gostando da
pelada do fim de semana e olhe lá? Deveria. Isso aconteceu? Não. Então me resta
trabalhar para curtir esta paixão.
É claro que a
comodidade de ter a chave ao seu alcance é outro mundo, mas um mundo que pode
ser caro. Se ter um carro não é o seu hobby e você não roda horrores, pense bem
e pense muito.
Você
provavelmente está rasgando dinheiro. Há milhares de carros à disposição de um
toque no seu smartphone. Se a sua conta de Táxi, Uber, Cabify ou afins não
estouraria R$ 1.000 e você não faz a menor questão de ter seu próprio carro,
pode vender sem pensar.
Eu faria isso.
Pena que meu coração acelerado não deixa. E nem paga a conta.
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